Na pandemia, comida saudável volta ao prato do brasileiro


Do início da pandemia até agora, o brasileiro incluiu mais hortaliças, frutas e feijão na alimentação. A constatação foi feita pelo estudo NutriNet Brasil, desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Universidade de São Paulo.

Em uma entrevista com 10 mil brasileiros, realizada por meio de uma plataforma online, os pesquisadores queriam saber quais tinham sido os alimentos consumidos no dia anterior. A diferença nas respostas do começo para o meio da pandemia não foi grande em números, mas estatisticamente se mostrou significante, de acordo com os organizadores.

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Quando questionados na primeira etapa do estudo, realizada entre os dias 15 de janeiro e 26 de fevereiro de 2020, sobre o que tinham comido no dia anterior, 40,2% responderam que haviam incluído nas refeições representantes das hortaliças, frutas e leguminosas. Na segunda etapa, realizada entre os dias 10 e 19 de maio, 44,6% confirmaram o consumo desses alimentos.

Imaginando que as pessoas não passaram, subitamente, a se interessar mais por esses alimentos durante a pandemia, Maria Alvim, co-autora do estudo e pesquisadora do Nupens, cita duas hipóteses imaginadas pela equipe.

“A primeira é que as pessoas estão comendo mais em casa, estão cozinhando mais. É cientificamente comprovado que cozinhar melhora a qualidade da dieta. Outro aspecto é que as pessoas podem estar mais preocupadas em fortalecer o sistema imunológico. Sabemos que esse sistema depende de vários fatores, como alimentação, estresse, exercícios e sono. Mas a alimentação tem um aspecto muito importante na modulação do sistema imunológico”, sugere.

A pesquisa ainda está em andamento e quem quiser participar pode se cadastrar no site do projeto.

Congelados, refrigerantes e embutidos
Apesar de um aumento do consumo benéfico em geral, os pesquisadores verificaram que nas macrorregiões Nordeste e Norte, e entre pessoas com menor escolaridade, houve também o registro de um aumento nos ultraprocessados.

Como o questionário do estudo é fechado, sem campo para respostas descritivas, os pesquisadores também não sabem dizer com exatidão o que levou a esse consumo. Ainda assim, algumas hipóteses podem ser elencadas.

“Há, aparentemente, uma relação entre a maior vulnerabilidade social e uma piora na alimentação, e tanto o Norte quanto o Nordeste são regiões com essa maior vulnerabilidade. Pessoas com menor renda são aquelas que tiveram que continuar trabalhando e, assim, têm menor tempo em casa”, explica Maria.

Outro fator que pode favorecer a opção pelos ultraprocessados, segundo a pesquisadora, é a dificuldade de acesso a alimentos saudáveis. “Quem é de uma classe média a alta tem um acesso mais fácil a alimentos frescos, in natura. Há também a questão do comfort food, de alimentos ligados ao prazer, como biscoitos, chocolate, etc”.

“A indústria alimentícia tem um marketing muito bem elaborado e convincente, que vende a ideia do alimento prático, que não dá trabalho, que não exige o cozinhar. Pelo que observamos, as pessoas com menor letramento nutricional aderem mais a esses discursos da indústria”, completa.

Confiança nas respostas
Para evitar o viés de resposta na pesquisa — quando o participante responde o que ele gostaria de ter comido em vez do que realmente foi sua refeição —, os pesquisadores esperam que um número cada vez maior de pessoas participem do estudo.
“Sabemos que esse erro de medida acontece, mas entendemos que é uma amostra tão grande, e esperamos alcançar 200 mil brasileiros, que não terá um peso muito grande na nossa amostra. É o que a gente espera”, explica Maria Alvim, co-autora da pesquisa.

Outro detalhe que pode contribuir com a honestidade da resposta pelo participante é que o questionário pergunta o que cada pessoa comeu no dia anterior, sem exigir um diário alimentar muito longo. “Como é algo retrospectivo, e o questionário chega em uma data que a pessoa não está esperando, não sabe de antemão, isso tende a fazer com que ela não manipule a dieta”, explica.

Além de não trazer nenhum juízo de valor sobre as escolhas dos participantes, a pesquisa oferece uma contrapartida. Depois do sexto mês de participação no estudo, os participantes que atingirem essa etapa receberão um relatório sobre o consumo. Como o estudo ainda está em andamento, e aberto a novos participantes, quem tiver interesse pode se cadastrar aqui.

“As pessoas vão receber um relatório do que consumiram e uma certa análise da qualidade da dieta. Não terá grandes juízos de valor, mas se poderá saber o quanto da dieta foi de ultraprocessados, quanto foi de frutas e verduras, etc. Esse relatório poderá ser levado a um profissional da saúde, ou ajudar a própria pessoa a fazer uma análise comparativa. É importante, assim, que a pessoa seja fidedigna às respostas”, explica.”

Leia mais em: https://www.semprefamilia.com.br/saude/na-pandemia-brasileiros-aumentaram-consumo-de-hortalicas-e-frutas/
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